domingo, 25 de outubro de 2015

Vento



Já não tenho certeza de seu amor, que, assim como vento, parece abalar as estruturas de meu eu e sumir com o raiar do sol do dia. Gostaria de te dizer palavras de amor mais sinceras do que as que digo em nosso conversar, em nossas trocas diárias de exclamações sobre as efemeridades da vida. Busco em palavras irrelevantes o sentimento que tentamos passar com nossas frases de paixão adolescente, garantindo em abraços nem sempre tácteis algo muito maior do que deixamos transparecer. E então chega o frio da noite urbana e nossos corações parecem congelar com a temperatura e com o medo de transparecermos demais com as luzes fictícias, uma ironia da vida, onde podemos ser quem somos no calor do dia e nos ausentar no medo da noite, onde nos sentimos mais sozinhos e desesperados. A noite escura cheia de desamores. Deito em meu travesseiro e busco respostas no teto branco, esperando que ele me alerte com palavras o que será de meu desatinado e perdido coração quando a escuridão chegar e as mentiras e omissões ilusórias começarem a preencher o vazio de tantos sumiços. Eu sei, não é assim, mas finjo e tento rir de minha inocência, de minha incompreensão, do vasto campo imaginário que possuo e não uso com tanta frequência quando gostaria (as palavras são mais caras do que gostaria que fossem, não posso me livrar delas e nem de seus preços e apreços em minha vida mortal). Palavras são o que eu tenho e gostaria de ouvi-las de você, gostaria de senti-las em você, nos lábios do seu peito metafórico, no amar sincero que podemos sonhar. Assim como o vento, você tende a aparecer e ir embora sozinha, e eu, como o dente de leão, só aguento o que pode levar meus sonhos adiante enquanto minhas raízes suportam o peso bruto que é amar. Seria você capaz de ser esse vento e ventar sempre, todo dia e noite, e me (e)levar onde nunca pensei em ir. Você é o meu vento incerto e aleatório e espero com a paciência de uma flor na noite fria e parada que você me abrace e me dê um olá.

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