domingo, 11 de maio de 2014

Este não é para você



Todas as canções perdem a rima quando ficam gastas de tanto serem cantadas. Você não as canta com sentimento; as canta com obrigação.

E esta não é para você
E não fala do teu olhar sorridente
Nem do teu sorriso espontâneo
Ou das pequenas covas em volta
de sua boca
Ou, quem sabe, nem dos teus cabelos
brilhando com o sol
iluminando com a lua
voando com o vento

Não fala, nem por um momento
dos teus sonhos de crescer
e fugir de todos os locais
que nunca te acolheram
Ou fugir de todas as falsidades
que a humanidade
disparou ao teu redor.

Esta canção não é para você
E nunca foi e nunca será
Pois não falo de meus sonhos constantes
Com teu ser
com teus lábios
com nossos corpos nus
dançando ao ritmo da música

Não
não é você.

Talvez seja para uma
febre repentina
Uma que tira de todos, tudo
Coloca você na estrada errada
Na rua errada
Com as pessoas erradas
Conversando sobre as coisas erradas
Enquanto você fica bêbado só de cheirar a atmosfera
E quer sair do local correndo
Mas está preso
E só faz uma canção de suas memórias banais
Faz um poema
Uma poesia
Desenha com as letras
ao
redor
do
tecl----ado
Mas nunca será para você que todos escrevem
Nem para você que eu escrevo
Nem para tua irmã
Ou tua mãe
Ou tua prima
Ou para o amor que nunca conheci igual e que
você
des
conhece

Para todos aqueles bandidos que tentam roubar tua glória, só dizemos: não, não faça isso, e somos roubados, pois somos fortes quando viramos as costas e fracos quando olhamos no rosto.

E então nada disso é para você
Nem as lembranças
Nem a canção
nem o poema
muito menos o texto
ou minha vida
ou as dores que me causou
ou as mortes que causou
ou as casas que queimou
ou os óculos que quebrou
ou as vidas que arruinou
Se nada disso é teu
você só tem você para ser sua
pois não há mais ninguém
para partilhar a dor
tão profunda de ser você
e apenas você
e você
e você
e sempre você.

Para todo o amor que já guardei
talvez para você
este agora com certeza não é para você
mas um dia deve ter sido teu
Teu e de mais alguém antes
E de mais alguém antes
E antes
E antes
E antes
E antes e antes e antes e antes e antes
E antes de esquecer que amanhã haverá um
Próximo dia
E amarei no próximo dia
e no próximo
e em qualquer outro.

E já me senti amargo, mas minha língua era doce
as palavras que saiam era doces
e azedas
e nunca dirigidas a você
Ou a você
Ou até mesmo a você
mas sempre sobre você
Ah, lembre-se de minha língua doce
Das minhas palavras de amor
que tocavam teus ouvidos
tua alma
teu ser
e faziam de você minha
ao contrario disto que é teu
e nunca será

porque a canção cansa e canta e dança. apesar de boas intenções, de boas lembranças, de boas vidas, elas cansam quando não compensam, elas ficam exaustivas. e quanto mais as repito, esses sons sem compensação, sem sensação, sem emoção, mais as canso, mais me jogo de canto, mais perco o meu descanso dançando as mesmas notas. essas canções sempre acabam. os discos continuam girando, a banda não para. você pede bis, e bis e bis, e cansa e não canta mais. o verso se torna descomprometido com a banal repetição. a rima se esvai. o doce te larga. a pista de dança tormenta tuas pernas e você está quase a cair. a canção não é mais para você. troque de canção se a canção já perdeu seu valor de canção. bote teus sapatos de dança. teus sapatos de dança vermelhos e dance os blues, dance. dance aquela que não é para você. nem para mim. dance, pequeno mentiroso. dance, a canção é tua.

E esta canção um dia deve ter sido tua.
Certeza que um dia já foi.
Pelo menos em minha mente
e em meu grande mar de amar
Mas este texto não é para você

É para mim
E escrevo sem fim;

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