sexta-feira, 30 de maio de 2014

Maratona Literária!

Uma das coisas que eu sempre quis fazer com o blog era adicionar conteúdo cultural (cinema, televisão, livros, música) nele. Com o passar o tempo, fui apenas colocando mais e mais textos, deixando de lado essa ideia de conteúdo adicional já que há trocentos mil blogs e sites falando dessas coisas. Os textos eram o meu diferencial, de certa forma, então me apoiei neles e apenas neles. Só que agora eu acho que achei ("acho que achei") uma oportunidade de finalmente colocar em ação aquilo que eu queria.

Lá no começo deste ano, me deparei com uma maratona literária. Eu tinha que escolher 5 livros e lê-los em um determinada espaço de tempo. Acho que eram duas semanas. Não me recordo ao certo. Apesar de não ter conseguido alcançar a meta (procrastinação), gostei da experiência e até repetiria. E pois bem, é exatamente isso que eu vou fazer.

Lançaram recentemente a versão "Eu sou doideira" da maratona literária. Nessa nova maratona, eu tenho 15 dias (de 1 a 15 de junho) para ler não 5 livros, como na última vez, mas 7! É praticamente um livro a cada dois dias. É loucura demais, mas aceitei e vou usar isso para aumentar o foco do blog pois não ficarei apenas lendo os livros: eu irei fazer resenhas. Se não for de todos, de pelo menos uns 3 ou 4 eu vou fazer, então vai ter bastante postagem em relação a isso aqui no blog.

E se você estiver se perguntando sobre a maratona, se estiver afim de participar, pois ainda dá tempo, é só entrar neste link aqui. Está tudo explicado pelo organizador, desde as datas, quantidade de livros, o que fazer e até formulário de inscrição para tornar tudo oficial, lembrando que o verdadeiro objetivo da maratona é se divertir e diminuir aquela fila gigante de livros que você tem pra ler, mas tem preguiça demais de avançar. 

No meu caso, os livros escolhidos foram estes aqui: 


Tenho certeza que o que mais vai me perturbar será Saco de Ossos, do Stephen King. Já me falaram muito bem sobre ele, mas ele possui cenas e sentimentos que às vezes perturba o andamento da leitura e você tem que deixar pra outro dia. De resto, eu escolhi: a trilogia Dragões de Éter porque estou enrolando com ela desde 2011, ou seja, desde que eu a ganhei; Eleanor & Park porque comprei recentemente e me parece ser uma leitura gostosa; Todo Dia porque vejo muita gente falando positivamente desse livro e me chamou a atenção (além de ser curtinho); e Os Filhos de Anansi, do Gaiman, escolhido exatamente por ser do Gaiman. Espero que eu consiga dar conta dos sete, já que, juntos, eles dão quase 3 mil páginas. 

De resto, fiquem ligados! Meu twitter está aí do lado da postagem, onde você me verão xingando o andamento da maratona (porque com certeza eu irei procrastinar) e farei as postagens com as resenhas. Se eu achar um tempo entre as leituras, resenhas e horas de sono, postarei textos também, sempre nos domingos a noite.

Longos dias e belas noites. 
Boa sorte pra quem participar.

terça-feira, 27 de maio de 2014

Dicionário suburbano: hipsters e indies

Hipster é um hippie meio punk com uma pegada alternativa que adora música que ninguém conhece, anda de All Star, não faz a barba (homens) e possuem cortes de cabelo exóticos e excêntricos geralmente com duas cores ou mais (mulheres. E alguns homens). O hipster gosta de dizer na tua cara que ele gostava de uma banda chamada "Los Arcade Monkeys of the Stone Killers of Leon" quando ainda lançavam as demos do primeiro álbum e que você só foi "descobrir" a banda no terceiro disco, que ele considera o mais o pop, fazendo com que ele não goste mais da banda, se lembrando, com doçura, dos primeiros momentos da banda, como se tivesse ido em todos os shows apesar da banda ser francesa e nunca ter feito shows na região que ele mora. 

O hispter também é aquela criatura maravilhosa com um óculos de aro grosso da Apple e que possui um iPhone 5S, três iPads, dois Macs e uma conta bancária suficiente para que ele mantenha seu guarda roupa cheio de roupas xadrez, Converses, calças que apertam o saco (homens) e calças que entram na bunda (homens e mulheres), além de manter o look sempre fantástico e além da moda, pois eles ditam a moda. Passam a eternidade dentro de um Starbucks enquanto fingem escrever um best-seller do New York Times em seus Macs e recebem toda a glória do saber universal de um shopping, mas na verdade estão no twitter postando sobre como suas vidas são miseráveis porque a barista escreveu o nome deles sem acento no copinho. 

O hipster também é aquela criatura cameleão que já mudou todo o seu padrão de vida e de estilo enquanto você lia este texto. 



Indie é um hipster mal resolvido, com atitude "I don't give a fuck, let's fumar", que sai correndo quando tá passando show do The Killers na tv e que parece bastante com um hipster, principalmente por causa da barba cheia, dos óculos de aro grosso, dos cabelos exóticos/excêntricos e dos All Stars (que cada vez mais são trocados pelos excelentes coturnos), apesar de que o indie nem sempre é rico e não desiste de uma banda logo depois dela fazer sucesso entre as pessoas da massa e ter suas músicas tocadas na rádio 6 vezes por dia. 

O indie usa jaqueta de couro, roupa xadrez, camiseta de banda rasgada por ele mesmo, calças jeans já rasgadas quando ele comprou, saias jeans, shorts jeans e tudo mais que tiver jeans e for rasgado ou tiver um corte diferente do normal. Ou que tiver o logotipo dos Ramones. Usam pierciengs e brincos e possuem tatuagens que não são tribais e nem são o nome do ex que eles tem que esquecer e por isso fazem uma tatuagem tribal por cima do nome do ex, ficando uma coisa linda e maravilhosa de se ver. Parecem aficionados pelo punk apesar de serem mais bonitos, mais bem vestidos e mais hipsters. Usam coroas de flores, como hippies, e óculos aviador. Possuem uma atitude rebelde, andam de busão e de metrô sem problemas, acham o twitter melhor que o facebook e querem sempre ir no Lollapalloza mesmo que as bandas sejam uma merda e que só os hipsters conheçam.

Gostam de música alternativa, variando do indie rock ao indie pop, indie metal, indie eletrônico, indie folk, indie blues, indie funk e qualquer coisa que tiver "indie" no nome, seja rápido, seja lento, e que tenha um vocalista chamado Alex na banda. Gostam de MPB, de filmes estrangeiros, de viver a vida ao extremo (já dizia a banda indie, "As Pancadas": you only live once), de festas estranhas com gente esquisita e música indie, de outros indies, de pessoas chamadas Alex e do Arctic Monkeys.


domingo, 25 de maio de 2014

Ela



Era aquela eloquência de sempre. Correria, celular tocando, roupas jogadas para todo o canto até encontrar uma que preste para seguir o dia. Era sempre assim, aquela rotina massiva e maçante que matava. Era possível até encontrar um amigo no meio do caminho, mas já sabia que as coisas já não eram mais as mesmas havia alguns meses. Seu último namorado a traiu. Os amigos já não ligavam mais porque estavam com suas namoradas e namorados. Os pais estavam de férias sem prazo de validade e ela estava jogada pelos cantos de uma vida tediosa e sem ninguém.

A mesma nota musical todo dia. Fá. Sol. Lá. Fá de novo. Lá bemol com 4ª. Quarta feira, dia de descanso ou de retardação? Ou apenas mais um dia para fugir pelas ruas desertas nessa cidade abarrotada de pessoas? Era sempre aquilo, não havia mais. Os banhos eram os mesmos. Não havia inspiração para cantar, nem no chuveiro. Quando achava que poderia parar, se apaixonar, encontrar alguém, viver a vida, nunca acontecia. Ela era muito fugitiva. Ninguém a pegava, nem desprevenida. Apenas aquela palavra a pegou e começou a esmagar sua existência.

Solidão, ela gritava.
Solidão.

Dia após dia, hora após hora, ela pensava o quão desgastante sua vida havia se tornado. Mesmo trabalho, mesmo carro, mesmo café, mesmo almoço. As pessoas eram sempre as mesmas, sua vida não andava para outros lugares: simplesmente fazia o mesmo percurso de ida e volta havia muito tempo. Ela já não sabia quanto era muito tempo.

Com ainda mais tempo, foi se tornando amarga. Amar já não era uma coisa boa e possível. Era impossível e triste. As amizades se rompiam ainda mais com o passar das estações e ela foi se desbotando, perdendo cores, se tornando negra como o café que tomava de manhã, como o céu noturno que ela nunca pode compartilhar, como o véu que usou quando desistiu de lutar.

No dia que simplesmente entregou a toalha, ela já não vivia mais. Tinha 27 anos quando sua vida virou um terror em sua própria existência. Tinha 31 quando já não tinha cores para doar, apenas dores. Tinha 32 quando desistiu. E tinha 48 quando um assalto a mão armada a pegou num supermercado. Ela não sentiu medo, não resistiu; se doou inteira. Um moleque, talvez com 18, 19 anos, não resistiu. Apertou o gatilho. Quando ela veio a cair, fria, no chão, o sangue era negro. Mas ela não sentiu mais nada. Ela já estava morta antes do tiro.

domingo, 11 de maio de 2014

Este não é para você



Todas as canções perdem a rima quando ficam gastas de tanto serem cantadas. Você não as canta com sentimento; as canta com obrigação.

E esta não é para você
E não fala do teu olhar sorridente
Nem do teu sorriso espontâneo
Ou das pequenas covas em volta
de sua boca
Ou, quem sabe, nem dos teus cabelos
brilhando com o sol
iluminando com a lua
voando com o vento

Não fala, nem por um momento
dos teus sonhos de crescer
e fugir de todos os locais
que nunca te acolheram
Ou fugir de todas as falsidades
que a humanidade
disparou ao teu redor.

Esta canção não é para você
E nunca foi e nunca será
Pois não falo de meus sonhos constantes
Com teu ser
com teus lábios
com nossos corpos nus
dançando ao ritmo da música

Não
não é você.

Talvez seja para uma
febre repentina
Uma que tira de todos, tudo
Coloca você na estrada errada
Na rua errada
Com as pessoas erradas
Conversando sobre as coisas erradas
Enquanto você fica bêbado só de cheirar a atmosfera
E quer sair do local correndo
Mas está preso
E só faz uma canção de suas memórias banais
Faz um poema
Uma poesia
Desenha com as letras
ao
redor
do
tecl----ado
Mas nunca será para você que todos escrevem
Nem para você que eu escrevo
Nem para tua irmã
Ou tua mãe
Ou tua prima
Ou para o amor que nunca conheci igual e que
você
des
conhece

Para todos aqueles bandidos que tentam roubar tua glória, só dizemos: não, não faça isso, e somos roubados, pois somos fortes quando viramos as costas e fracos quando olhamos no rosto.

E então nada disso é para você
Nem as lembranças
Nem a canção
nem o poema
muito menos o texto
ou minha vida
ou as dores que me causou
ou as mortes que causou
ou as casas que queimou
ou os óculos que quebrou
ou as vidas que arruinou
Se nada disso é teu
você só tem você para ser sua
pois não há mais ninguém
para partilhar a dor
tão profunda de ser você
e apenas você
e você
e você
e sempre você.

Para todo o amor que já guardei
talvez para você
este agora com certeza não é para você
mas um dia deve ter sido teu
Teu e de mais alguém antes
E de mais alguém antes
E antes
E antes
E antes
E antes e antes e antes e antes e antes
E antes de esquecer que amanhã haverá um
Próximo dia
E amarei no próximo dia
e no próximo
e em qualquer outro.

E já me senti amargo, mas minha língua era doce
as palavras que saiam era doces
e azedas
e nunca dirigidas a você
Ou a você
Ou até mesmo a você
mas sempre sobre você
Ah, lembre-se de minha língua doce
Das minhas palavras de amor
que tocavam teus ouvidos
tua alma
teu ser
e faziam de você minha
ao contrario disto que é teu
e nunca será

porque a canção cansa e canta e dança. apesar de boas intenções, de boas lembranças, de boas vidas, elas cansam quando não compensam, elas ficam exaustivas. e quanto mais as repito, esses sons sem compensação, sem sensação, sem emoção, mais as canso, mais me jogo de canto, mais perco o meu descanso dançando as mesmas notas. essas canções sempre acabam. os discos continuam girando, a banda não para. você pede bis, e bis e bis, e cansa e não canta mais. o verso se torna descomprometido com a banal repetição. a rima se esvai. o doce te larga. a pista de dança tormenta tuas pernas e você está quase a cair. a canção não é mais para você. troque de canção se a canção já perdeu seu valor de canção. bote teus sapatos de dança. teus sapatos de dança vermelhos e dance os blues, dance. dance aquela que não é para você. nem para mim. dance, pequeno mentiroso. dance, a canção é tua.

E esta canção um dia deve ter sido tua.
Certeza que um dia já foi.
Pelo menos em minha mente
e em meu grande mar de amar
Mas este texto não é para você

É para mim
E escrevo sem fim;

domingo, 4 de maio de 2014

A par



Não é por menos que ficarmos sentados no banco da varanda era muito mais expressivo do que dizer palavras sobre o que sentíamos naquele momento. Era como a queda do breve estoque de amor que havíamos guardado, ou que pelo menos eu tinha e ainda não me arrependia. Não sabia o que fazer depois daquilo. Pensei em me levantar e ir embora para o todo e vamos-lá-todo-mundo sempre. Só que o sempre é uma mentira furada que contamos para nossos filhos e netos quando eles estão na cama e querem ouvir histórias fantásticas. Aquele banco era a representação da nossa tal abençoada ignorância das coisas, ou pelo menos da sua ignorância e repressão interna. Nunca brigamos porque nunca houve verdadeiro amor naquilo tudo. Talvez um pouco de saudade física de ambos os lados. Um joguinho de tensão e líbido para esquecer do pavor imenso de sentar sozinho para almoçar na própria casa num domingo ensolarado.

- Não sei o que fazer - ela me diz com aqueles olhos arranhados de maresia tardia, - juro que não sei.
- Bom, você poderia ficar quieta - eu respondo ela, como se ela tivesse feito uma pergunta, como se ela tivesse merecido o tapa. Sua cara ficou vermelha, os olhos mais arranhados, emaranhados naquelas lágrimas de crocodilo que ela usava a todo instante.
- Bem, como você se sente?
- Péssimo, e espero que você se sinta assim ou pior.
- Por que tudo isso?
- Entregamos nossos corpos para completar um buraco que nós mesmo cavamos. Eu precisei de mais. Você não. Eu te amei, você não.
- Eu te amei - ela revidou.
- Lógico.

Foi então que eu levantei, a garrafa de cerveja ainda na minha mão, ainda com o terno e com a gravata. Virei para ela e a vi com aquele vestido branco e azul, uma beldade aos meus olhos opacos. 

- Podemos seguir em frente - eu digo finalmente.
- Para onde?
- Você, eu não sei. Quanto a mim, para longe daqui.

E saí pelo portão como se saísse de uma vida de coisas fixas, de calendários e datas marcadas, de convites de casamento onde eu respondia que sempre iria com alguém. A festa havia acabado e não podia negar que sentia rancor. O sol estava se pondo, e minha crença do para sempre também.

- Podemos nos encontrar algum dia - eu digo ainda com a garrafa de cerveja na mão e já fora da varanda, já na rua. Quero andar, sentir o vento -, mas não gostaria. Boa vida.

Fui seco na despedida. Ela não disse nada. Não virei para trás. Ninguém precisava fazer isso. Eu era teimoso e ela uma imbecil. Casal perfeito em muitas imaginações, inclusive na minha. 

Então brincamos de seguir em frente, como uma nostalgia, uma frente fria, uma possessão além do nosso controle. Até o dia que nos vimos e nos reconhecemos de um passado distante. 

- É bom te ver - ela me disse.
- É, bom te ver também.

É engraçado como coisas antigas parecem novas e como sentimentos se escondem nas fissuras mais tensas do teu coração, esperando um pouco de ar para pegar fogo e nunca mais sair da combustão. 

Quando me vi, já havia me queimado.