Ele havia entrado na padaria para comprar um maço de cigarros, mesmo sabendo que ela não vendia e que nem tinha dinheiro para comprá-lo.
- Por favor - disse ele para a vendedora do balcão, - um maço de cigarros.
- Senhor, não vendemos cigarros - respondeu a mulher atrás do balcão.
- Mesmo assim, eu gostaria de comprar um maço de cigarros.
- Isso é uma padaria, não vendemos cigarros.
- Vendem sim que eu sei. Vamos, por quanto você me venderia?
- Senhor - suspirou a mulher, - não temos cigarros aqui. Compreende?
- Não?
- De maneira alguma.
- Que absurdo! Todos os lugares deveriam ter cigarros.
- E por que você diz isso?
Ele olhou para trás, em direção a rua, colocou as duas mãos no bolso e tirou um papel amassado de um deles.
- Por favor - disse ele. - Leia o que está escrito nesse papel.
A mulher pegou o papel, com receio, desamassou-o o suficiente para conseguir entender o que estava escrito e portou-se a dizer em voz alta:
- “Aqui, na rua, eu vi uma delicada mulher, linda como o brilho de uma lua cheia, andar. Eu, estonteado pela beleza singular e rara dela, a persegui como um sonho de verão. Ela nunca olhou para mim, mas eu sempre tive a oportunidade de vê-la, de ver aqueles olhos de cor azul como o céu e com tantos pecados quanto possíveis. A persegui por 26 dias, contando os domingos, até o dia que me atrevi a lhe falar. Ela possuía uma voz de seda, delicada e suave, pronta para esmagar meu coração com veludo. Ela retirou um cigarro de sua bolsa, o acendeu vagarosamente e me ofereceu um. Aceitei sem pensar duas vezes, embora eu não fumasse. Ela me disse que todos deveriam fumar. Perguntei para ela, por que, e só o que eu vi foram os dois olhos dela virando para mim, com um ar angelical, e o som de uma risada leve, de outro mundo. Ela respondeu com a seguintes palavras: “Quando o amor não serve de vício, porque mata e esmaga, o cigarro é um excelente apaziguador de corações”. Perguntei-lhe, “por que então não a bebida?”, e ela me respondeu “bebida? Ela vícia, e mata, e te faz perder o sentidos.” - a mulher deu uma pausa, olhou para ele, que fez sinal para continuar - E ela continuou: “deveria haver cigarros em todos os lugares”. Novamente, lhe perguntei “por quê?”. Sua resposta, que nunca esquecerei: “Quando a vida dá uma trégua, é hora de fumar. É hora de matar a dor, de esquecer a dor. O mundo precisa de cigarros. O mundo precisa de amor.”
- Ótima leitura - disse ele. - Pode parar aí mesmo. Deixe-me te perguntar, você fuma?
A mulher, esbabacada pelo o que havia lido, demorou a responder.
- Sim.
- Você ama?
- Sim.
- Com que frequência?
- Como assim?
- Quando você se toca que está amando?
- Eu.. não sei.
- Entendo. Então, você tem cigarros, não é?
- Tenho?
- Poderia me dar um?
- Claro.
A mulher se afastou, pegou um cigarro e deu-o para ele.
- Muito obrigado.
- Sabe, você poderia ter ido na loja do lado, lá eles vendem maços de cigarro.
- Eu sei. É que eu não tinha dinheiro e precisava amar um pouco.
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